Igreja de Nossa Senhora da Vitória

Padroeira

A origem da invocação da Capela de Nossa Senhora da Vitória parece não estar associada a um grande acontecimento de triunfo na história mundana, como acontece noutros casos de que o Mosteiro de Santa Maria da Vitória (Batalha) é exemplo maior, mas sim provir de uma particular veneração mariana que se foi expressando de forma cada vez mais alargada e criando tradição. A devoção terá começado nos primeiros anos do século XVI, no Hospital de Nossa Senhora das Virtudes, situado no local da antiga Caldeiraria, onde uma das senhoras internadas, velhinha cega, mandou fazer uma imagem de Nossa Senhora, de roca e vestidos, que, colocada na capela do hospital e invocada como Senhora da Vitória, rapidamente granjeou alargada veneração. Sob esta invocação, os cristãos aqui têm louvado a “Cheia de Graça” que triunfa sobre o pecado, recorrendo a ela como insigne auxiliadora nas várias lutas e dificuldades do humano peregrinar.

História

No ano de 1530, constituiu-se a Irmandade dos Caldeireiros, elegendo como sua padroeira Nossa Senhora da Vitória, então venerada na capela do Hospital de Nossa Senhora das Virtudes. Em 1556 a Irmandade edificou ermida própria, contígua ao hospital, então desvinculado do Hospital de Todos-os-Santos. Casa de grande devoção, foi recebendo diversos privilégios, nomeadamente os que lhe advieram da agregação ao Hospital do Espírito Santo em Sassia (Roma). A partir de 1663, a Irmandade passou a designar-se por Real Irmandade de Nossa Senhora da Vitória, quando, durante as Guerras da Restauração, o rei D. Afonso VI reconheceu a Nossa Senhora da Vitória o sucesso na Batalha do Ameixial, comprometendo-se então a oferecer-lhe anualmente quatro arrobas de cera e tornando-se, a si e aos seus reais descendentes, juiz perpétuo da Irmandade, compromisso reafirmado pela rainha D. Maria I. Destruídos pelo Terramoto de 1755, o hospital e a igreja foram reedificados um pouco a sul da primitiva edificação, segundo projecto de José Monteiro de Carvalho. As obras de reedificação estenderam-se de 1765 até 1824. Tendo recebido campanha de restauro em 1940, sofreu em 1975 um incêndio que a desfigurou consideravelmente.

Património

No Exterior Ainda que pouco evidente, a fachada principal da igreja distingue-se por uma simplicidade harmoniosa. O tímpano é o principal elemento decorativo, nele figurando um ramo de palma e outro de oliveira entrecruzados, símbolos de vida, vitória e sacralidade.

Na nave, o tecto em abóboda de berço com apainelado de estuque, a moldura central ostenta o símbolo mariano AM (iniciais de Ave Maria), pintura de José Francisco Ferreira de Freitas. Nos quatro medalhões sobre as portas, figuram os “Doutores da Igreja” (S. Ambrósio, S. Jerónimo, S. Agostinho e S. Gregório Magno).

Os silhares de azulejos ornamentais que correm as paredes são de feição neoclássica, datáveis de início do século XIX, enquanto os do coro, com símbolos marianos, remontam ao fim de Setecentos. Conferem alguma dinâmica decorativa ao espaço da nave os trabalhos em cantaria que rematam o arco triunfal, as portas e os altares colaterais, destacando-se particularmente, no altar lateral do lado do evangelho, a imagem de Cristo Crucificado (oriundo do Convento do Espírito Santo da Pedreira), com uma pequena escultura de Nossa Senhora da Piedade aos pés. Defronte, no altar do lado da epístola, a tela representa São Carlos Borromeu distribuindo esmola. Os vitrais são produto da campanha de 1940.

A Capela-mor evidencia o despojamento, não só o já original da reedificação pombalina, mas também o provocado pelo incêndio de 1975. No retábulo de camarim, ladeada pelas imagens de São Pedro e Santo António, está entronizada a imagem da padroeira, de madeira policromada, atribuída ao escultor José de Almeida, encomendada pela Irmandade em 1756. Ostenta numa mão uma palma como símbolo da vitória e, na outra, o Menino Jesus.

No coro, encontra-se um órgão de tubos de Machado e Cerveira, instrumento simples datado de 1822.

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